
Como sociólogo e comunista, admiro profundamente o presidente Lula. Trata-se de uma liderança mundial de inteligência incomparável. Outro dia o ouvi dizer: “quem quiser ajudar meu governo, critique, reclame e reivindique.”
Foi um recado claro aos bajuladores.
Seguindo essa linha crítica, faço algumas considerações.
Nesta semana, Lula esteve em Manaus para uma agenda sobre segurança pública envolvendo os países da Amazônia. Até aí, nada a questionar. O que me pareceu estranho foi o presidente vir à cidade com uma programação única, como se o governo não tivesse mais nada a apresentar.
Passei dez anos como gestor nos governos Lula e Dilma e sei como funcionam o cerimonial e a forma de governar que construímos.
A Secretaria-Geral da Presidência é a responsável por organizar a agenda do presidente nos estados. Hoje, não está cumprindo esse papel. Tudo virou um grande caos.
Lula chegaria a Manaus na terça-feira, dia 9. Na segunda, conversei com a direção do PT e até com uma companheira da equipe precursora da Presidência da República. Ninguém sabia que haveria reunião com os movimentos sociais na UFAM.
Tudo bem, fui lá. Mas o que vi foi um horror. Uma falta de respeito provocada pela desorganização. O auditório comportava apenas 150 pessoas, mas a coordenação (?) enviou 500 pessoas, entre estudantes, professores e representantes de movimentos sociais, para uma fila de credenciamento que não resultou em nada.
Fiquei estarrecido.
Essa é a nossa base: gente que sustenta o governo, que se mobiliza para eleger Lula, combater o fascismo e defender a democracia. Vi professores da UFAM serem desprestigiados dentro da própria universidade.
E não se trata de um fato isolado: isso vem se repetindo em todo o Brasil. O próprio Planalto tem contribuído, ainda que involuntariamente, para desgastar a popularidade de Lula e enfraquecer seu vínculo histórico com a militância. Não é má-fé, é incompetência, fruto do vício de gabinete.
Lula não pode visitar um estado sem uma agenda robusta, articulando vários ministérios. Precisa anunciar medidas em áreas como saúde, educação, agricultura e políticas sociais. Precisa, também, reunir-se com a militância do PT e com os movimentos sociais. É assim que o PT sempre foi.
A Secretaria-Geral da Presidência tem se mostrado ineficiente nessa articulação. O cerimonial chega ao estado, não escuta ninguém e não organiza nada. Isso expõe Lula a riscos e fragiliza o governo.
Isso precisa mudar. Tem que melhorar. Essa não é – nem pode ser – a prática de um governo petista.
*Lúcio Carril é Sociólogo e colaborador do amazonas365.