
Por Lúcio Carril*
Uma mudança de postura em todos os níveis do governo, dos cientistas e instituições públicas em relação à Amazônia resultaria de uma outra concepção, que não fosse aquela da velha política econômica produtivista e exploradora.
A Amazônia é um espaço de vida que reúne centenas de povos e milhares de comunidades. Temos cerca de 180 povos indígenas e mais de mil comunidades quilombolas, segundo a Nova Cartografia Social. São 27,8 milhões de habitantes (IBGE, 2022), distribuídos em 775 municípios, numa área que abrange 60% do território nacional.
Essa diversidade étnica e populacional reproduz conhecimentos seculares. Não é correto se referir à Amazônia como uma mancha de potencial econômico, pronta para virar geleia nas mãos do capital internacional ou das suas concubinas nacionais e ignorar outras riquezas que consideramos importantes.
A Amazônia é um espaço de vida.
A Amazônia é um espaço onde nascemos, vivemos e criamos nossos filhos, filhas, netos, netas, bisnetos e bisnetas, homens e mulheres da floresta. É aqui que nos construímos gente, seres humanos com uma cultura arraigada em costumes e tradições herdadas de milhões de ancestrais espalhados pelas várzeas, matas e beira de rios, antes que a colonização chegasse e cumprisse sua missão genocida.
Qualquer projeto para nossa região tem que priorizar essa visão cultural e social, do contrário reproduzirá desigualdade e destruição de valores humanos construídos por séculos.
No meio dessa mata vista pela janela do avião ou de fotografias tiradas por satélites têm seringueiros, povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pescadores e pescadoras artesanais, agricultores familiares, piaçabeiros, peconheiros e muitos outros.
Mesmo diante de tanta riqueza cultural e diversidade social, a Amazônia tem o menor rendimento médio do Brasil.
Todos os projetos nacionais implantados ou que tentaram implantar na nossa região foram de exploração econômica e nenhum de desenvolvimento social e valorização cultural. Desde a primeira pisada do colonizador até o ataque brutal do capital só destruição foi feita.
Nós, povos da Amazônia, das cidades, dos rios e da floresta, queremos que aqui se implante políticas públicas estruturantes, com sentido humano, social e cultural. Que nossas riquezas naturais sirvam de proteção ao ambiente que vivemos e não para a ganância do capital.
Nossa gente da floresta ainda vive na perspectiva da solidariedade e não do lucro. É possível desenvolver a Amazônia sem destruí-la, basta respeitar nossos modos de vida.
Esperamos que o governo Lula e os governos estaduais tenham sensibilidade e compromisso com os nossos povos e com o meio ambiente e saiam do discurso vazio e demagógico, usando nossa região apenas como cartão de visita.
Aqui têm brasileiros e brasileiras que merecem um olhar sério e não de oferta da Amazônia para o capital nacional e internacional.
*Lúcio Carril, é sociólogo, e colaborador do amazonas365.







