Vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas é acusada de manipular trabalho acadêmico

A dissertação da jornalista Paula Litaiff foi removida do site da UFAM; ao lado dela o cacique Ismael Munduruku ─ FOTO: Reprodução

 

Manaus (AM) – Um terremoto de proporções éticas e profissionais abala o jornalismo amazonense, jogando luz sobre um ineditismo preocupante: a Universidade Federal do Amazonas (UFAM) removeu o vídeo de uma dissertação de mestrado da jornalista Paula Litaiff, atual vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Amazonas (SJPAM), após denúncias de lideranças indígenas do Parque das Tribos, no bairro Tarumã, zona Centro-Oeste.

Para especialistas da área do conhecimento jurídico, este caso não é apenas um revés acadêmico; ele representa uma crise de credibilidade sem precedentes para uma figura ─ dona de uma revista de notícias no Estado – que deveria ser guardiã dos padrões éticos da profissão, exigindo explicações urgentes aos profissionais amazonenses.

A medida cautelar, assinada pelo vice-coordenador do Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA), Bruno de Oliveira Rodrigues, vem à tona enquanto tramita a impugnação formal da pesquisa, intitulada “Violência Simbólica de Gênero no Parque das Tribos”.

O vice-coordenador do Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia, Bruno de Oliveira e representantes indígenas – FOTO: Divulgação

A acusação é grave: distorção de depoimentos, uso indevido de fontes e violação de direitos coletivos. A denúncia, protocolada pelos advogados indígenas Isael Munduruku e Danielle Baré, em nome do cacique Ismael Munduruku ─ nominalmente citado na dissertação como autor de violência simbólica, algo que ele nega categoricamente – joga uma sombra sobre a metodologia e a idoneidade da pesquisa.

Veja vídeo das lideranças indígenas desmentindo a pesquisa acadêmica:

O que a Lei diz sobre a punição neste tipo de caso? ─ A polêmica levanta questões sérias sobre a conduta ética e as possíveis implicações legais. No âmbito acadêmico, a manipulação de dados ou distorção de informações em trabalhos científicos pode levar a sanções disciplinares severas, incluindo a anulação do título de mestrado, caso as denúncias sejam comprovadas após o devido processo administrativo.

Além disso, a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), citada pelos advogados indígenas, é clara ao exigir consulta prévia, livre e informada às comunidades indígenas sempre que seus modos de vida forem objeto de estudo.

A violação desta convenção, que tem força de lei no Brasil, pode acarretar em ações civis públicas e outras medidas para reparação de danos aos direitos coletivos.

No campo profissional, a conduta de Paula Litaiff, como vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas, é ainda mais delicada. O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros é enfático em relação à busca da verdade, à precisão das informações e ao respeito aos direitos humanos.

A manipulação de fontes e a distorção de depoimentos são consideradas graves infrações éticas. Dependendo da gravidade e comprovação das denúncias, as sanções podem variar de advertências a suspensões ou até mesmo à cassação do registro profissional, em casos extremos e após o devido processo em instâncias como o Conselho de Ética do Sindicato ou da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ).

A necessidade de explicações urgentes de Paula Litaiff aos profissionais Amazonenses ─ A situação ganha contornos ainda mais dramáticos com o depoimento público da indígena Maira Mura, apresentada no trabalho como fonte direta. Em vídeo que viralizou nas redes sociais, Maira desmente categoricamente as afirmações a ela atribuídas:

─ Nunca disse a nenhum pesquisador que Ismael Munduruku se autodeclarou liderança -, declarou Maira. Essa fala não só expõe a fragilidade da apuração da jornalista, como também compromete de forma alarmante a seriedade de sua conduta enquanto profissional.

A revista de notícia, criada e editada por Paula Litaiff, construiu sua reputação justamente abordando pautas sensíveis e defendendo os povos indígenas. No entanto, o conteúdo de sua dissertação ─ agora suspensa – revela uma profunda contradição entre discurso e prática, levantando a suspeita de que o compromisso com essas causas poderia estar mais ligado à construção de uma imagem pública do que a uma real escuta das vozes originárias.

Este caso não é apenas uma questão acadêmica; ele atinge o cerne do debate sobre responsabilidade jornalística e ética profissional. Quando uma liderança sindical da categoria se vê envolvida em um caso de possível manipulação de fontes, a confiança na representatividade e no compromisso com a verdade é abalada em sua essência.

O SJPAM e a FENAJ foram procurados pela reportagem e aguardam posicionamento sobre o caso. A equipe de reportagem não conseguiu contato com Paula Litaiff, mas mantém o espaço aberto para sua manifestação.

O que se espera, no entanto, é que a vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas do Amazonas se pronuncie publicamente e esclareça aos profissionais amazonenses as graves acusações que pesam contra ela, restabelecendo a confiança e a transparência que a categoria tanto preza.

 

Da Redação

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