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Lúcio Carril*
Manaus (AM) ─ Desde o início do governo Lula que sua base de apoio – a esquerda e setores progressistas ─ externa descontentamento com a falta de divulgação das ações do governo e/ou como vem se dando a sua forma de se comunicar com a população.
Pegaram o Paulo Pimenta, ex-titular da Secretaria de Comunicação, para Judas, ou para pato, lhe atribuindo ineficiência e, até mesmo, incompetência. No seu lugar foi colocado o marqueteiro da campanha do Lula em 2022, Sidônio Palmeira.
No ofício de sociólogo, não acho correto atribuir um problema grande a uma pessoa ou mesmo a um grupo, quando este é a parte de um todo mais complexo. É possível até melhorar a ação mexendo numa peça ou noutra, mas o problema persistirá.
No meu singelo entendimento o governo tem um problema de gestão e não de comunicação.
O governo federal tem hoje cerca de 28 mil cargos comissionados, distribuídos por todo território nacional e fora do país. Diferentemente dos governos passados do Lula, esse exército de confiança tem pouca mobilidade, sem recursos para viagens e diárias.
Esses agentes públicos ficam de mãos atadas e pernas acorrentadas nas sedes dos seus órgãos, ou seja, nas capitais, sem poder se articular com o público-alvo das suas ações. Tem muito dirigente de órgão que viaja a trabalho com combustível pago do seu bolso ou no seu próprio carro.
Sem a mobilidade do gestor público, as ações do governo federal que chegam aos municípios são apropriadas pelo prefeito e pelo governador. Essa ausência também facilita as notícias falsas, geralmente disseminadas pela oposição, muito eficiente nessa conduta.
Outro problema de comunicação, causado pela falta de gestão, é a ineficiência dos ministérios. Seus ministros não têm criatividade e parecem desconhecer a capilaridade das suas pastas. É muita política e pouca ação. Esse povo do centrão é um atraso para qualquer administração e os gestores de esquerda também não ajudam. Falta ousadia, criatividade, vontade de caminhar.
Outro fator que está amarrando a gestão de ponta do governo Lula é a impossibilidade do dirigente de nomear seu staff, sua equipe, ficando refém dos funcionários da casa, que cumprem sua carga horária e tchau. Fico imaginando eu dirigir uma instituição e não poder levar comigo meu chefe de gabinete, meu diretor financeiro, meus assessores. É melhor nem aceitar uma bomba dessa.
Diante dessa realidade, pode colocar o melhor de todos os marqueteiros ou o melhor dos profissionais de comunicação que o governo continuará com dificuldade de fazer chegar suas ações como suas ações até à população.
Por fim, como se não bastassem tantas amarras, o gestor federal nos estados não tem sequer um jornalista para divulgar suas ações e toda e qualquer divulgação tem que passar por Brasília. Ou seja, você mesmo escreve um release, manda para a secretaria de comunicação e depois de um mês tem autorização para divulgar. Aí já viu, né.
E agora por fim mesmo, a Secretaria de Comunicação do governo Lula tem que trabalhar com as mídias regionais. É ela que chega na ponta. Ficar jogando fortunas para a Globo, CNN, Band e SBT não ajuda muito. Essa cambada é do mal.
*Lúcio Carril é Sociólogo