É possível prever o efeito das mudanças climáticas sobre a fauna hoje para daqui há alguns anos?  

 

Por Claudia Lima*

 

Manaus (AM) ─ Mudanças climáticas tem sido um dos assuntos mais discutidos nas últimas décadas, a preocupação gira em torno das consequências para a fauna, flora e humanos.

 

No Brasil, políticos e especialistas estarão reunidos para tratar do assunto em 2025, na 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-30), mais precisamente na capital paraense, Belém.

 

As discussões girarão em torno das alterações climáticas, impulsionadas principalmente pela urbanização desenfreada, atividades antrópicas como queimadas criminosas, desmatamento, agricultura, pecuária e crescentes níveis de industrialização, que vêm impactando negativamente ar, solo e ambientes aquáticos, modificando índices de CO2 , temperatura média, pH e oxigênio dissolvido em bacias hidrográficas, podendo ser letal para todos nós.

 

A necessidade dessa discussão, que não é nada nova, parte do resultado do Quarto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) que prevê um aumento na temperatura do ar de 1,8 até 8,0°C e concentração de CO 2 de aproximadamente 1000 ppm (partes por milhão) até 2100. A alta velocidade com que vem acontecendo essas alterações climáticas, traz consigo previsões de períodos de enchentes e vazantes cada vez mais longos e severos, o que são fatores agravantes na conservação das espécies, descaracterizando sistematicamente seu hábitat natural, revelando cenários críticos no período atual e no futuro, com espécies vivendo em seu máximo térmico.

 

Para interferir positivamente nessas estimativas é preciso, antes de tudo, conhecer as espécies, identificar onde elas estão e qual o seu nicho fundamental (ambiente ótimo para a espécie viver e procriar). Esses dados, necessários e urgentes, podem ser obtidos junto a institutos de pesquisa, universidades e órgãos ambientais que utilizam tecnologia informatizada (softwares) e Inteligência Artificial (IA) para produzi-los, tornando-os acessíveis a partir de publicações científicas. Utilizar esses dados, para tomadas de decisão é fundamental e urgente.

 

Uma abordagem muito atual que pode nortear tomadores de decisão e governos é a Modelagem Preditiva de Distribuição de Espécies (MPDE). Com base em pontos de ocorrência conhecidos, os modelos (softwares) podem predizer a distribuição geográfica das espécies, reconhecer condições ambientais ótimas, inferir ameaças climáticas e perda de habitat, permitindo orientar atividades de campo e coleta para estudos científicos, e assim, avaliar o grau de ameaça no presente e estimar o futuro.

 

Esse método é especialmente relevante para grupos raros e/ou ameaçados (ver Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas), fornecendo em pouco tempo grande volume de dados, possibilitando o subsídio de programas de monitoramento e ações que mitiguem os impactos ambientais, déficits de conhecimento (Linneano, Wallaceano, Haeckeliano) e a perda da biodiversidade.

 

Todavia, os altos preços dessa tecnologia têm se tornado uma preocupação crescente na comunidade científica. Apesar de essenciais para mapear a distribuição de espécies, prever mudanças em seus habitats e apoiar ações de conservação, os custos elevados de licenciamento e atualização de softwares dificultam o acesso para pesquisadores de instituições com orçamentos limitados, especialmente em países em desenvolvimento, como o Brasil, podendo comprometer a capacidade de conduzir estudos mais amplos e detalhados, cruciais para a proteção da biodiversidade em um contexto de mudanças climáticas.

 

Em resumo, sim, é possível estimar a perda da biodiversidade no futuro, sob os impactos climáticos ocorridos ontem e hoje, no entanto, investir em pesquisa e tecnologia é imprescindível. E ainda, é extremamente necessário e inadiável haver mobilização dos agentes com influência direta nesses impactos, ou seja, todos nós, sociedade, institutos de pesquisa, agência de fomento e governos, movidos pelo bem e continuidade da fauna, flora e de nossas próprias vidas.

 

*Claudia Lima é Bióloga doutoranda do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).

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