Justiça determina reparação por mortes na crise de oxigênio em Manaus

A decisão busca responsabilizar União, estado do Amazonas e prefeitura de Manaus ─ FOTO: Bruno Kelly - 14.jan.2021/Reuters

 

Manaus (AM) ─ A Justiça Federal determinou que a União, o estado do Amazonas e a prefeitura de Manaus investiguem as violações de direitos humanos das vítimas da crise de oxigênio, ocorrida em janeiro de 2021, durante a pandemia de covid-19, na capital amazonense.

A medida é a primeira sobre o caso e acolhe parcialmente os pedidos requeridos, com tutela de urgência, em ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Federal (MPF) em conjunto com a Defensoria Pública Estadual (DPE/AM).

De acordo com a decisão da Justiça Federal, devem ser elaborados programas estatais para identificar as vítimas, incluindo familiares, e garantir atenção médica/psicossocial e capacitação educacional/laboral para as pessoas afetadas. Também deve ser realizadas coletas dos dados e fornecimento de informações precisas acerca dos eventos nos hospitais em 2021.

Além disso, devem ser desenvolvidos cursos internos, direcionados ao corpo técnico das Secretarias e Ministério da Saúde, abordando os eventos relacionados à pandemia e as boas práticas de atuação em cenários de emergência sanitária, conforme as evidências técnicas e científicas.

As medidas precisam ser implementadas a partir do segundo semestre de 2025. A decisão prevê o prazo de 60 dias para o cumprimento das determinações. O descumprimento poderá resultar na aplicação de multa diária de R$ 10 mil, limitada a uma soma máxima de R$ 500 mil para cada réu.

Indenizações – Além das medidas requeridas com tutela de urgência, o MPF e o DPE/AM pedem na Justiça que a União, o estado e o município paguem uma indenização de R$ 4 bilhões – R$ 1,6 bilhão para danos individuais homogêneos e R$ 2,4 bilhões para danos morais coletivos e sociais.

Esse pedido da ação ainda aguarda julgamento e busca a responsabilização civil, institucional e histórica dos entes públicos pela forma como conduziram a crise sanitária decorrente da pandemia de Covid-19, especialmente durante o período da crise do oxigênio.

Investigações – Em inquérito conduzido pelo MPF foi constatada a falta de contratação adequada de oxigênio medicinal, mesmo após a empresa fornecedora alertar sobre o aumento na demanda. Em julho de 2020, seis meses antes da crise de falta de oxigênio, a fornecedora avisou ao estado que era preciso assinar um aditivo no contrato para aumentar o fornecimento.

No entanto, apenas em novembro o contrato foi ampliado, e ainda assim, em uma quantidade menor do que o necessário.

As investigações apontaram a omissão do governo ao não planejar de forma adequada a transferência de pacientes para outros estados, mesmo sabendo que o sistema de saúde poderia entrar em colapso em poucos dias e que havia vagas disponíveis em outras regiões do país.

Além disso, a falta de ações coordenadas de distanciamento social e o incentivo ao uso de medicamentos preventivos sem comprovação científica ajudaram a piorar a situação, levando ao colapso do sistema de saúde e à escassez de oxigênio medicinal no estado, ocorrida em janeiro de 2021.

O MPF destaca que a grave omissão acarretou violação dos direitos à vida, à saúde, à informação e à memória, além de ter contribuído para o agravamento da crise sanitária e para centenas de óbitos evitáveis.

Com informações da assessoria de imprensa

Ação Civil Pública 1011497-89.2024.4.01.3200

Consulta Processual

Artigo anteriorÁtila Lins lidera defesa contra MP que ameaça direitos de pescadores amazonenses  
Próximo artigoHomem que agrediu Paulo Onça é solto, e será monitorado por “tornozeleira”