
Brasília (DF) ─ A ordem de prisão domiciliar de Jair Bolsonaro (PL), determinada nesta segunda-feira (04/08) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, adiciona um novo nome à lista de ex-presidentes da República que já foram privados de liberdade.
Do período da Primeira República à Nova República, nove presidentes brasileiros enfrentaram algum tipo de prisão ─ seja por motivações políticas em contextos autoritários, seja por crimes comuns cometidos após o mandato.
Outro ex-presidente brasileiro também cumpre prisão domiciliar no momento. Fernando Collor, condenado em definitivo pelo Supremo, começou a cumprir, em 25 de abril, pena de oito anos por corrupção e lavagem de dinheiro. O atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, também esteve preso após seus dois mandatos.
Veja a lista dos ex-presidentes presos, do caso mais recente para o mais antigo:
- Jair Bolsonaro
- Fernando Collor
- Michel Temer
- Lula
- Juscelino Kubitschek
- Café Filho
- Arthur Bernardes
- Washington Luís
- Hermes da Fonseca
A seguir, confira a trajetória de cada um deles, com o contexto histórico, as acusações e as consequências de suas detenções.
Presidentes presos após a redemocratização (1985)
Bolsonaro teve prisão domiciliar decreta por descumprir restrições impostas pelo Supremo Tribunal Federal.

Jair Bolsonaro (2019-2022)
Ano da prisão: 2025
Tipo: Prisão domiciliar
Motivo: Descumprimento de medida cautelar no inquérito sobre tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro foi preso em regime domiciliar por desrespeitar reiteradamente medidas cautelares, como a proibição de uso de redes sociais, inclusive por meio de terceiros. Segundo a decisão, o ex-presidente se valeu de filhos, aliados e “milícias digitais” para divulgar conteúdos com ataques ao STF e tentativa de obstrução da Justiça. Além da prisão em casa, está proibido de receber visitas (exceto advogados e pessoas autorizadas), de usar celular e de manter contato com outros investigados.
Foi autorizada ainda a apreensão de seus aparelhos eletrônicos. A medida integra o processo em que ele é acusado de liderar uma conspiração para invalidar o resultado das eleições de 2022, vencidas por Lula.
Condenado a mais de oito anos de prisão, Fernando Collor cumpre pena em prisão domiciliar.

Fernando Collor (1990-1992)
Ano da prisão: 2025
Tipo: Condenação definitiva do STF
Motivo: Corrupção e lavagem de dinheiro (caso BR Distribuidora)
Collor foi condenado a 8 anos e 10 meses por receber R$ 20 milhões em propinas da UTC Engenharia para favorecer contratos com a BR Distribuidora entre 2010 e 2014, quando era senador. Preso em Maceió, a caminho de Brasília para se entregar, teve a pena convertida posteriormente em prisão domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica.
Michel Temer foi detido duas vezes, mas foi absolvido das acusações posteriormente.

Michel Temer (2016-2018)
Ano da prisão: duas vezes em 2019
Tipo: Prisão preventiva
Motivo: Corrupção em contratos da usina nuclear Angra 3 (Operação Descontaminação)
Temer foi acusado de participar de um esquema de corrupção envolvendo a Eletronuclear e obras da usina de Angra 3. Segundo delações, teria recebido R$ 1,1 milhão em propinas. Foi preso em março de 2019 por ordem do juiz Marcelo Bretas, permaneceu quatro dias detido e foi solto por habeas corpus. Em maio, foi novamente preso por determinação do TRF-2, ficando mais seis dias detido. Em 2022, foi absolvido da principal acusação.
Lula passou mais de 500 dias preso na PF em Curitiba. Depois, teve as condenações anuladas.

Lula (2003-2010) – no exercício do terceiro mandato desde 2023.
Ano da prisão: 2018
Tipo: Prisão após condenação em segunda instância
Motivo: Corrupção passiva e lavagem de dinheiro (caso do tríplex do Guarujá)
Lula foi condenado por supostamente receber um tríplex da OAS como propina em troca de contratos com a Petrobras. O então juiz Sérgio Moro determinou sua prisão após a confirmação da condenação em segunda instância. Ficou preso por 580 dias na Superintendência da PF em Curitiba.
Em 2019, o STF mudou seu entendimento sobre a prisão após segunda instância e determinou sua libertação. Em 2021, suas condenações foram anuladas e ele recuperou os direitos políticos.
Presidentes presos antes da Constituição de 1988
JK foi preso logo após a decretação do AI-5.

Juscelino Kubitschek (1956-1961)
Ano da prisão: 1968
Tipo: Prisão política (ditadura militar)
Motivo: Suspeita de corrupção e ligação com o comunismo
Na noite de 13 de dezembro de1968, quando foi editado o ato institucional mais duro da ditadura militar (AI-5), JK foi preso por militares após sair do Theatro Municipal do Rio. Acusado de conspirar contra o regime, ficou 27 dias incomunicável em um quartel de São Gonçalo. Libertado, exilou-se nos Estados Unidos.
Café Filho, preso por tentar golpe de Estado contra JK.

Café Filho (1954-1955)
Ano da prisão: 1955
Tipo: Prisão domiciliar imposta pelos militares
Motivo: Suspeita de envolvimento em tentativa de golpe após as eleições de JK
Hospitalizado após um infarto, foi impedido de reassumir a Presidência. Após receber alta, permaneceu mais de dez semanas sob custódia militar em sua residência, vigiado por tanques do Exército.
Arthur Bernardes, preso por participar de revolução contra Getúlio.

Arthur Bernardes (1922-1926)
Ano da prisão: 1932
Tipo: Prisão política
Motivo: Participação na Revolução Constitucionalista contra Getúlio Vargas
Preso em sua fazenda em Viçosa (MG), foi levado ao Rio de Janeiro com os filhos e mantido incomunicável por mais de dois meses. Depois, foi exilado em Lisboa.
Washington Luis foi preso ao ser deposto da Presidência por militares.

Washington Luís (1926-1930)
Ano da prisão: 1930
Tipo: Prisão durante o mandato
Motivo: Deposto pela Revolução de 1930
Derrubado por militares ligados a Getúlio Vargas, foi preso no Palácio do Catete, levado ao Forte de Copacabana e detido por 27 dias, antes de se exilar por 17 anos.
Hermes da Fonseca foi preso duas vezes.

Hermes da Fonseca (1910-1914)
Anos das prisões: 1892 e 1922
Tipo: Prisões políticas e disciplinares
Motivos: Em 1892, por criticar a deposição de um governador; em 1922, por apoiar a Revolta dos 18 do Forte
Na segunda prisão, foi detido por seis meses, acusado de insuflar o levante militar contra o governo Epitácio Pessoa. Morreu pouco após ser libertado.
Com informações do Congresso Em Foco