
Manaus (AM) — Um novo relatório divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) coloca o Amazonas em uma posição preocupante no cenário nacional: o estado figura entre as unidades da federação que registraram aumento nos índices de trabalho infantil.
O dado contrasta com esforços globais para a erradicação da prática e revela a vulnerabilidade social que atinge as famílias amazonenses.
Diferente de outras regiões onde o trabalho infantil está concentrado em fábricas, no Amazonas a exploração assume faces específicas, muitas vezes invisibilizadas.
Crianças e adolescentes são encontrados majoritariamente no comércio informal nas ruas de Manaus, na agricultura familiar de subsistência e, de forma mais alarmante, no trabalho doméstico e na exploração sexual, esta última frequentemente mascarada pela “ajuda financeira” a famílias em extrema pobreza.
Por que os casos aumentaram no Amazonas? ─ Especialistas em direitos da criança e do adolescente e auditores fiscais do trabalho apontam três pilares principais que sustentam este aumento:
- Agravamento da pobreza e insegurança alimentar: O principal motor do trabalho infantil é a necessidade econômica. Com a inflação dos alimentos e o desemprego, muitas famílias passaram a ver o trabalho dos filhos não como uma escolha, mas como uma estratégia de sobrevivência. Em muitos lares amazonenses, a renda trazida por uma criança vendendo produtos em semáforos é o que garante a única refeição do dia.
- A logística do interior e o trabalho invisível: A vasta geografia do Amazonas dificulta a fiscalização. Nas comunidades ribeirinhas e nos municípios do interior, o trabalho infantil é frequentemente normalizado como “aprendizado” na roça ou na pesca. Como o acesso das equipes de assistência social e do Ministério Público do Trabalho é limitado pela distância e pelo custo de deslocamento, muitos casos sequer entram nas estatísticas oficiais, embora o relatório da OIT consiga captar a tendência de alta.
- Impacto pós-pandemia e evasão escolar: O Amazonas ainda sofre com os reflexos do fechamento prolongado das escolas durante a crise sanitária. Milhares de jovens que se afastaram das salas de aula não retornaram, sendo absorvidos pelo mercado de trabalho informal. Sem a escola como rede de proteção, a criança fica exposta à exploração.
O que dizem as autoridades ─ O Ministério Público do Trabalho (MPT-AM) e fóruns estaduais de erradicação do trabalho infantil reforçam que a solução não passa apenas pela repressão, mas por políticas públicas de transferência de renda e fortalecimento da escola em tempo integral.
─ O trabalho infantil rouba o futuro e a saúde. Quando uma criança troca o caderno pela caixa de engraxate ou pela enxada, estamos perpetuando um ciclo de pobreza que o Amazonas precisa quebrar -, afirma o relatório.
Denuncie ─ O trabalho infantil é crime e pode ser denunciado de forma anônima através do Disque 100 ou diretamente nos conselhos tutelares de cada município.
Da Redação







