Acordo China-Brasil avança para construção de ferrovia bioceânica    

Traçado original pretende “rasgar” o Brasil para a construção da rota bioceânica ─ FOTO: Reprodução  

 

Manaus (AM) – O governo brasileiro e a China formalizaram um acordo para o projeto de uma ferrovia bioceânica que ligará o Brasil ao Peru. Um memorando de entendimento define que a estatal brasileira Infra S.A., vinculada ao Ministério dos Transportes, coordenará os estudos de viabilidade, coleta de dados e suporte institucional do lado brasileiro.

Do lado chinês, um grupo técnico liderado pelo China Railway Economic and Planning Research Institute será responsável pelo projeto.

A ferrovia está planejada para iniciar no porto de Chancay, no litoral peruano, onde os chineses já operam um dos maiores portos da América Latina. O traçado seguirá pelo território peruano até Cusco e Pucallpa, chegando ao Acre, no Brasil.

A partir de Rio Branco (AC), a ferrovia cruzaria Rondônia e chegaria a Mato Grosso, onde se conectaria à já em construção Fico (Ferrovia de Integração Centro-Oeste). Essa malha, ligada à Fiol (Ferrovia de Integração Oeste-Leste), percorreria Goiás e entraria na Bahia, terminando no Porto Sul de Ilhéus. O traçado total estimado é de aproximadamente 4,5 mil km de ferrovias.

Leonardo Ribeiro, secretário nacional de transporte ferroviário do Ministério dos Transportes, confirmou o avanço dos acordos, destacando a parceria como resultado de uma atuação diplomática e técnica. Ele ressaltou que, enquanto o Brasil já tem progresso com a Fico e a Fiol, a colaboração chinesa impulsiona o avanço do lado peruano do projeto.

O corredor ferroviário é considerado um dos maiores projetos logísticos globais, com potencial para reduzir em até dez dias o tempo de transporte de cargas entre os portos brasileiros do Atlântico e os mercados asiáticos, via Porto de Chancay. Estima-se que cerca de US$ 350 bilhões em exportações brasileiras por ano, principalmente minério de ferro e soja, tenham a China como destino.

Ribeiro também afirmou que o acordo “abre portas para que a China passe, efetivamente, a participar dos projetos brasileiros”, o que deve dar “ainda mais segurança para atração de novos investimentos”.

Empresas chinesas têm realizado levantamentos detalhados de concessões logísticas no Brasil, analisando oportunidades em ferrovias, portos, hidrovias e rodovias, movimento similar ao já consolidado no setor elétrico. Reuniões bilaterais e visitas presidenciais e de equipes técnicas têm sido frequentes nos últimos meses. Em maio, uma delegação chinesa visitou as obras das ferrovias Fico e Fiol, que conectarão a área produtora de grãos de Mato Grosso ao litoral baiano. O grupo também visitou o Porto de Santos, que terá seu novo terminal de contêineres leiloado.

A estatal chinesa Cosco Shipping é a responsável pelo novo complexo portuário de Chancay, no Peru, um investimento de US$ 3,5 bilhões que se tornará o maior empreendimento chinês fora da Ásia. Após uma inauguração simbólica em novembro passado, a operação efetiva começa em março.

Além da ferrovia, a integração rodoviária, chamada de “Corredor Bioceânico”, avança com o Chile. Essa rota aproveita estradas existentes e prevê obras de melhoria e pavimentação. A principal obra é uma ponte que ligará Porto Murtinho (MS) a Carmelo Peralta, no Paraguai, com conclusão prevista para maio de 2026, segundo a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet.

Outros 200 km de pavimentação no Paraguai devem ser concluídos até dezembro do próximo ano. Com esses avanços, o corredor rodoviário interligará os portos brasileiros do Sudeste e Sul aos portos chilenos no Pacífico, reduzindo significativamente as distâncias para o escoamento de produtos.

Paralelamente, o governo brasileiro, em parceria com países vizinhos, trabalha desde 2023 no programa Rotas de Integração Sul-Americana, que prevê cinco caminhos de acesso a países fronteiriços. A “Rota 2”, que conecta Peru e Brasil via hidrovia do Rio Solimões/Amazonas, é a mais viável e avançada no momento.

Da Redação, com informações da Folha

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