Amizade entre Trump e Musk azeda e abre campo de batalha perigoso

A antiga aliança entre Trumo e Musk se desfez em uma rivalidade pública que reflete uma máxima antiga ─ FOTO: Reprodução  

 

Manaus (AM) ─ A relação entre presidente dos Estados Unidos, Donald Trump e bilionário da tecnologia Elon Musk, duas das figuras mais dominantes e imprevisíveis do século XXI, transformou-se de uma aliança de conveniência em um campo de batalha aberto.

O que antes era uma parceria cautelosa entre o poder político de Washington e a inovação disruptiva do Vale do Silício, hoje é uma troca constante de farpas em suas respectivas plataformas — o Truth Social de Trump e o X (antigo Twitter) de Musk.

Essa hostilidade, no entanto, não é apenas um choque de personalidades; é a manifestação de uma lei quase física do poder: dois corpos de massa colossal não podem ocupar o mesmo espaço sem gerar uma colisão.

Nem sempre foi assim. Durante a presidência de Trump, Musk participou de conselhos empresariais da Casa Branca, e havia um respeito mútuo aparente. Trump via em Musk um símbolo do gênio industrial americano que ele tanto exaltava.

Musk, por sua vez, navegava pragmaticamente na relação com um governo cujas decisões poderiam impactar diretamente seus negócios bilionários, da SpaceX à Tesla. A aliança, contudo, era frágil, construída sobre a areia movediça de egos gigantescos.

O ponto de virada definitivo foi a aquisição do Twitter por Musk em 2022. Ao comprar a plataforma que havia se tornado a principal ferramenta de comunicação de Trump — e que o baniu após os eventos de 6 de janeiro de 2021 —, Musk tornou-se, de fato, o novo soberano da praça pública digital.

Ele reintegrou a conta de Trump em nome da “liberdade de expressão”, mas o ex-presidente, orgulhoso, optou por permanecer em seu próprio reduto, o Truth Social. A partir daí, a dinâmica mudou para sempre. Deixaram de ser potenciais aliados para se tornarem concorrentes diretos na economia da atenção.

A máxima de que “dois gigantes não se bicam” aplica-se perfeitamente aqui. A questão fundamental é que tanto Trump quanto Musk operam de maneira semelhante:

Culto à Personalidade ─ Ambos cultivam seguidores devotos que os veem não apenas como um político ou um empresário, mas como um líder visionário, um salvador ou um mártir. Seus nomes são suas marcas mais valiosas.

Controle da Narrativa ─ Nenhum dos dois aceita ser definido pela mídia tradicional. Eles utilizam suas plataformas para falar diretamente com suas bases, moldando a realidade e atacando adversários sem intermediários. Trump precisa que o Truth Social seja o epicentro do seu universo; Musk precisa que o X seja o centro de todo o universo digital. São objetivos mutuamente excludentes.

Exigência de Lealdade vs. Independência Absoluta ─ Trump exige lealdade total e ataca ferozmente qualquer um que o critique ou que demonstre independência — a quem ele chamou Musk de “artista da lorota” (bullshit artist) quando o bilionário expressou dúvidas sobre apoiá-lo. Musk, por outro lado, construiu sua imagem como um lobo solitário, um gênio indomável que não se curva a nenhum poder, seja ele político ou econômico.

A rivalidade se intensificou durante o ciclo eleitoral de 2024. Musk, embora crítico da administração Biden, nunca ofereceu a Trump o endosso inequívoco que o ex-presidente esperava.

Em vez disso, flertou com outros candidatos e manteve uma postura de crítico de ambos os lados, posicionando-se como uma força independente acima da briga partidária. Para Trump, essa neutralidade é sinônimo de traição.

No final, a saga Trump vs. Musk é menos sobre política e mais sobre poder. É a história de dois homens que chegaram ao topo de suas respectivas pirâmides e descobriram que o pico da influência global é um lugar solitário e pequeno demais para ambos.

Cada tuíte de Musk e cada “truth” de Trump não é apenas uma mensagem para seus seguidores, mas um empurrão sutil no tabuleiro de xadrez global, uma tentativa de provar quem é a força mais dominante da nossa era. A velha filosofia se prova verdadeira: no panteão dos titãs modernos, não há espaço para dois reis.

 

Da Redação

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