
Manaus (AM) ─ A cena que viralizou nas redes sociais, embora específica local, data e hora, ecoa uma realidade dolorosa e multifacetada no cotidiano de muitos brasileiros. Um homem, sentindo-se ultrajado pela traição da esposa, expulsa-a de casa, expondo sua dor e a humilhação da mulher em uma gravação carregada de fúria.
A frase “Eu sou o corno”, repetida como um grito de dor e raiva, revela a ferida narcísica e a expectativa de posse que ainda permeiam muitas relações.
No entanto, por trás da aparente “justiça” da reação do marido, reside uma dinâmica perigosa e frequentemente ignorada: o contraste entre a sua explosão de raiva e a potencial (e muitas vezes real) violência psicológica que mulheres enfrentam em situações semelhantes, ou até mesmo nessa. Imaginemos se os papéis fossem invertidos.
A descoberta da traição por parte do marido, em inúmeros lares brasileiros, infelizmente culminaria em agressão verbal, humilhação, isolamento e, em casos extremos, violência física contra a mulher.
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A “tranquilidade” que não vemos nesse vídeo – a ausência de uma explosão violenta por parte da mulher traída – não significa ausência de dor ou sofrimento. Pelo contrário, para muitas brasileiras, a traição do parceiro instaura um cotidiano de insegurança, desconfiança e questionamento constante de seu valor.
A violência psicológica se manifesta de formas sutis, mas devastadoras: o silêncio gélido, a manipulação emocional, a desvalorização constante, o controle disfarçado de cuidado.
A humilhação pública sofrida pela mulher no vídeo é uma forma explícita de violência, mas a traição em si já planta as sementes para um abuso psicológico silencioso.
A quebra da confiança mina a autoestima da vítima, tornando-a mais vulnerável à manipulação e ao controle por parte do parceiro, que pode usar o ocorrido para justificar comportamentos abusivos futuros.
É crucial entender que a reação explosiva do marido, embora compreensível em um primeiro momento para alguns, não justifica a exposição e a humilhação da esposa.
Da mesma forma, a ausência dessa explosão em situações onde a mulher é traída não implica ausência de sofrimento. Pelo contrário, muitas vezes, o medo da retaliação violenta a silencia, aprisionando-a em um ciclo de dor e potencial violência psicológica.
O vídeo viralizado serve como um lembrete sombrio da complexa teia de emoções, poder e desigualdade de gênero que permeia os relacionamentos e contribui para os alarmantes índices de violência psicológica contra a mulher no Brasil.
É preciso olhar além da superfície da cena e reconhecer as diversas formas que a violência assume, muitas vezes invisíveis, mas profundamente destrutivas no cotidiano de inúmeras brasileiras.
Com informações do jornal O Hoje