
Manaus (AM) ─ Nestes primeiros meses de 2025, completo 45 anos de militância política e social.
06Eu ainda era um garoto de 14 anos quando a moçada do Diretório Universitário da Universidade do Amazonas, hoje DCE da UFAM, foi à minha escola, Nossa Senhora das Graças, no Beco do Macedo, convidar para uma reunião de mobilização da campanha pela meia passagem.
Pronto. A partir daquela primeira reunião nunca mais larguei da luta social. Entrei para o Partido Comunista Brasileiro, PCB, e ali iniciei minha formação política.
Ainda perdurava a ditadura militar, com início da abertura, anistia, volta dos exilados e direito de organização. Surgia o Partido dos Trabalhadores e a luta pela democracia era intensa, com a retomada dos sindicatos sob a intervenção do Estado e/ou sob o domínio de dirigentes pelegos.
Em 1981, na luta pelo Passe Único, a polícia da ditadura, no governo José Lindoso, reprimiu violentamente nossa manifestação na Praça São Sebastião, invadiu o templo católico, onde nos refugiamos, e nos espancou sem dó. Ainda um garoto de 15 anos e com muitos outros e outras da minha idade fomos levados para a DOPS e ali submetidos a agressões e humilhação.
A luta nunca foi fácil.
Outras prisões vieram.
Fiz parte da comissão de reconstrução da UESA e me tornei líder estudantil secundarista. Fui coordenador da Juventude Comunista do Partidão por muitos anos. Participei de associação, comunitária, sendo fundador do Bairro Tancredo Neves. Estive presente em todas as lutas pela redemocratização do país aqui em Manaus.
Na campanha pelas eleições diretas, ainda com 18/19 anos, discursei no ato histórico na Praça do Congresso, representando o ainda ilegal PCB, ao lado de Ulisses Guimarães, Franco Montoro, Dante de Oliveira, Tancredo Neves e outros políticos nacionais.
Foram muitas as lutas. Aos 59 anos, me orgulho do que o movimento social me transformou. Nunca fiz do conhecimento um instrumento divorciado da minha construção como ser humano. Se defendo a revolução, é de amor, de paixão, de solidariedade, de fraternidade e de igualdade que estou falando e esses valores devem fazer parte da minha vida. Foi e será sempre assim.
Muitos companheiros foram ficando na caminhada. Alguns partiram definitivamente da vida e outros pularam para o outro lado. Mas continuo aqui, vivo, romântico, utópico e sem abrir um centímetro dos meus sonhos por uma sociedade justa e igualitária.
Muitos companheiros continuam vivos, e na luta. São meus camaradas, irmãos e irmãs de coração. Como dizia Neruda, formamos uma boa família, temos a pele curtida e o coração moderado.
A luta social me fez mais humano. Minhas lágrimas continuam presentes, derramadas pela alegria ou pela indignação. Nunca pensei em me resignar a nada. É da luta que estou falando. É da luta por um mundo melhor que me alimento todos os dias.
Quando eu já tinha como certo que o Brasil não mais correria o risco de um retrocesso político, o fascismo chegou novamente ameaçando a democracia. Derrotamos o fascismo e garantimos a democracia. No entanto, a ameaça persiste. Ou seja, a luta sempre será necessária e enquanto eu estiver vivo, meu braço erguido nas ruas, a tinta implacável saída das minhas mãos e minha voz continuarão servindo ao sonho de todos e todas que lutam por justiça social.
Obrigado aos meus companheiros e companheiras que tanto me ensinaram e continuam me ensinando a ser melhor. Seus braços entrelaçados aos meus servem de oxigênio para respirar e para continuar lutando.
Como dizia Nestor Nascimento, A LUTA CONTINUA.
Lúcio Carril é Sociólogo amazonense*