Por Nelson Azevedo*
Manaus (AM) ─ O potencial da Amazônia está sendo desperdiçado? Os fatos, infelizmente, confirmam. A Amazônia carrega em si uma promessa imensurável. Não apenas como berço da maior biodiversidade do planeta, mas como um território estratégico para o Brasil e o mundo. No entanto, transformá-la em prosperidade para nossa população continua sendo um desafio crônico. Não pela ausência de caminhos, mas pela cegueira da insensatez que nos impede de enxergar além das diferenças e compartilhar uma jornada comum.
Estamos paralisados por disputas pequenas
Estamos presos a querelas que fragmentam nossa capacidade de ação. Personalismos, disputas paroquiais e falta de diálogo construtivo têm limitado o impacto das iniciativas locais e dificultado o avanço das soluções coletivas. Não se trata de falta de recursos ou mesmo de vontade política. Temos segurança jurídica, apoio institucional e, principalmente, clareza sobre os caminhos que não funcionam mais. O que falta é coragem para deixar de lado o “varejo” das disputas e atacar o problema no “atacado”: nossa incapacidade de trabalhar juntos.
Devemos aprender com a Zona Franca de Manaus
O exemplo da Zona Franca de Manaus é emblemático. Por meio de habilidade política e coerência administrativa, conseguimos reafirmar em 2023, no Congresso Nacional, a importância deste modelo de desenvolvimento para a Amazônia e para o Brasil. Mas esta vitória não encerra o conflito entre o Brasil e o Brasil. O Norte continua sendo percebido pelo Sul e Sudeste como um território distante, periférico, cujo papel seria meramente o de fornecer recursos.
A hora é de convergir interesses
A Zona Franca, por si só, não resolve nossas desigualdades regionais, mas prova que é possível avançar quando existe convergência de interesses. Ela se mantém hoje graças ao esforço coletivo de atores públicos e privados comprometidos com um propósito maior: garantir que a Amazônia permaneça em pé enquanto se desenvolve. É esse mesmo espírito de cooperação que precisamos ampliar para além das fronteiras institucionais e regionais.
Estamos prontos para virar a chave?
Virar a chave é descobrir que os velhos chavões e os antigos remédios já não nos ajudam a evoluir, perceber que o movimento é incessante e juntos e em partilha fica mais fácil achar soluções conjuntas. Chegamos ao limite do que a mediocridade e a desunião podem nos oferecer. Estamos perdendo tempo precioso. É hora de virar a chave. Precisamos parar de medir esforços pelo que nos separa e começar a construir sobre os propósitos que nos unem. Não pensamos igual e isso seria empobrecedor. A diferença é a senha do crescimento e dos efetivos avanços. Aprender é reconhecer que não sabemos tudo. Ninguém sabe.
É possível respeitar as diferenças e ainda assim crescer
Não é necessário que falemos a mesma linguagem. Temos diferentes culturas, perspectivas e prioridades. Mas isso não deveria ser uma fraqueza. Na aritmética institucional, quando dividimos responsabilidades e respeitamos nossas diferenças, multiplicamos os frutos. O que precisamos é de coragem para admitir isso e comprometimento para agir.
O que nos impede de recomeçar a jornada?
A verdadeira prosperidade não será construída por meio de futricas ou disputas destrutivas. Ela virá da solidariedade, do compartilhamento de recursos e da definição clara de objetivos comuns. Setores público e privado, líderes regionais e nacionais, precisam sentar-se à mesa dispostos a ouvir mais do que falar. Temos dois ouvidos e uma boca; a lógica natural sugere que ouvir mais aumenta nossas chances de aprender, aperfeiçoar e crescer.
Temos recursos, segurança jurídica e talentos
Este não é um chamado à utopia. É uma convocação prática para enfrentarmos a realidade. Temos recursos, temos segurança jurídica, temos ciência. O que nos falta é organização, diálogo e visão coletiva. Se não quisermos virar a chave, que pelo menos tenhamos a honestidade de admitir isso uns aos outros. Mas se decidirmos seguir adiante, que seja com coragem, maturidade e clareza. Como poderemos evoluir se permitirmos que a omissão e as escolhas envelhecidas condenem nosso projeto comum ao caos. A Amazônia é nossa maior riqueza, e só alcançaremos sua verdadeira potencialidade quando aprendermos que crescer juntos, integrados e em cooperação, é mais valioso do que competir sozinhos.
*Nelson é economista, empresário e presidente do SIMMMEM, Sindicato da Indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, conselheiro do CIEAM e da CNI e vice-presidente da FIEAM.