Rodrigo Constantino*
Às vezes ficamos com a nítida sensação de que o mundo é mesmo controlado por canalhas. O que pode explicar, afinal, o teatro comandado por Lula para distribuir medalhas de honra a quem não tem qualquer honra, incluindo o ministro Alexandre de Moraes, no dia do velório de Clezão, empresário que seguia como preso político e morreu sob a custódia do Estado, deixando duas filhas? É tanto descaso que choca qualquer pessoa que não perdeu a empatia.
E eis o grande desafio: em meio a tanto absurdo, tanta injustiça, conseguir manter o foco naquilo que importa, lutando por um mundo melhor. Diante de presos políticos, jornalistas censurados, clima de intimidação, o duro é ainda apostar na busca pela verdade, no bom jornalismo, ciente de todos os perigos. Não há, porém, alternativa para quem não vendeu sua alma ao Diabo e não se acovardou de vez. Remar contra a maré é sempre um desafio, mas é a única saída para quem se recusa a ser arrastado rumo ao abismo moral. O niilismo tampouco é uma solução.
Na frente da polícia do Rio, marginais depredaram um carro. O ato criminoso levou minutos e, durante todo o longo processo, vemos os policiais simplesmente filmando o vandalismo. O Rio está abandonado ao crime faz tempo. Na Califórnia, têm sido cada vez mais comuns imagens de marginais invadindo lojas e levando mercadorias, enquanto ninguém faz nada. Esta semana foi a Nike. A esquerda democrata alimenta o crime com suas leis estúpidas que tratam bandido como vítima da sociedade. O desafio, para quem não perdeu o juízo, é manter um Law Abiding Citizen (“Código de Conduta”) em meio ao caos. Será que os cumpridores da lei é que são uns idiotas? O desafio é responder um enfático “não”!
Terroristas do Hamas invadem Israel e matam centenas de civis inocentes. Quando Israel vai fazer o que qualquer nação atacada com tal selvageria faria, sua legítima defesa é condenada como “terrorismo de Estado”. Os perversos criam falsa equivalência moral entre os dois lados do conflito, e os mais cafajestes chegam a duvidar de que foi mesmo o Hamas o responsável pelas mortes. O povo judeu, uma vez mais alvo do abjeto antissemitismo, lamenta com profunda decepção o silêncio dos “bons”. O desafio é não ficar depressivo diante de uma humanidade tão covarde e alienada.
Em meio a tanta coisa ruim, há quem escolha a alienação mesmo. Melhor se desligar do noticiário e viver feliz na ignorância, alegam. Mas, se todos passarem a agir assim, como um “idiota” no conceito grego da palavra, desligando-se da coisa pública, então os mais oportunistas certamente vão agradecer. O castigo de quem não se interessa por política é ser governado por quem se interessa. “A punição que os bons sofrem, quando se recusam a agir, é viver sob o governo dos maus”, alertou Platão.
O grande desafio, portanto, é resistir a essa tentação e insistir na batalha, como um soldado resiliente em prol da verdade, da liberdade, da justiça. A apatia às vezes bate à porta, a melancolia nos toma de assalto após tantas derrotas, mas desistir nunca é uma opção. Em tempos sombrios como o atual, quem carrega a luz tem um fardo grande e deve manter-se sempre fiel a seus valores, jamais sucumbir às tentações de fugas para a zona de conforto.
“Aqueles que abririam mão da liberdade essencial para adquirir um pouco de segurança temporária não merecem nem liberdade nem segurança”, alertou Benjamin Franklin. “O verdadeiro homem sorri em meio aos problemas, reúne forças na angústia e se torna corajoso pela reflexão”, constatou Thomas Paine. O pessimista se queixa do vento, o otimista espera que ele mude, e o realista ajusta as velas.
Recuso-me a permitir que Alexandre, Lula, Dino e outros do tipo vençam a guerra final, que seria nos fazer todos à sua imagem e semelhança, gente sem princípios morais, sem caráter, sem amor ao próximo.
Não dá para ter falsas esperanças quanto ao ser humano. “A virtude da humanidade consiste em amar os homens; a prudência, em conhecê-los”, ensinou Confúcio. O bicho-homem é capaz de praticar verdadeiras atrocidades. Mas também é o homem o animal capaz dos atos heroicos, em prol de ideais. E os heróis inspiram. A maioria passou pelo pão que o Diabo amassou, e mesmo assim resistiu bravamente, e colheu os frutos depois, servindo como um norte para muitos, uma chama acesa que se recusa a apagar, mesmo contra as mais fortes tempestades.
Outro dia, por acaso, caí em postagens antigas minhas do Twitter. Elas tinham dezenas de milhares de curtidas e comentários. Isso foi antes da censura suprema. As minhas contas bancárias foram congeladas com meses de remuneração acumulada. Meu passaporte foi cancelado. Fui ostracizado por um sistema corrupto e autoritário, sem jamais ter cometido qualquer crime. Mas me recuso a bancar a vítima. Ainda mais quando penso que o deputado Daniel Silveira — alguém ainda lembra dele? — está preso de forma ilegal até hoje. Ou quando penso nas centenas de patriotas que foram presos de forma ilegal. Ou ainda quando penso no Clezão, que deixou duas filhas e estava preso à revelia do Ministério Público, por capricho do “Xandão”.
O maior desafio é não desanimar, não se entregar e, acima de tudo, não se transformar numa pessoa pior por causa disso, amargurada, rancorosa, cheia de ódio no coração. Não podemos perder a capacidade de indignação, e não podemos abandonar a luta por justiça. Mas me recuso a permitir que Alexandre, Lula, Dino e outros do tipo vençam a guerra final, que seria nos fazer todos à sua imagem e semelhança, gente sem princípios morais, sem caráter, sem amor ao próximo.
É este, então, o maior desafio: quero que os verdadeiros criminosos sejam punidos por seus crimes, pois sem isso a sociedade se destrói; mas não desejo mal nem vingança aos que têm feito mal a tanta gente inocente. Ao contrário: espero que um dia ainda possam se arrepender de verdade do que fizeram, e quem sabe encontrar Deus em seus frios corações. O maior desafio é jamais perder a esperança na humanidade. Amém!
*Economista liberal-conservador, autor do best-seller “Esquerda Caviar” (Editora Record)